A descoberta, feita pela estatal francesa SNCF, de
que seus novos trens eram largos demais para a maioria das estações foi
embaraçosa.
Mas não é a primeira vez que um pequeno erro de
cálculo teve repercussões sérias.
Segundo a SNCF, a culpa pelo fiasco foi da
operadora nacional das ferrovias, a RFF.
O ministro do Transporte, Frederic Cuvillier, disse
ser absurdo que uma empresa opere as vias e outra os trens, e disse que essa
estrutura tinha levado ao problema.
Porém, nem sempre há alguém com quem repartir a
culpa.
Aqui estão outros 9 exemplos em que um pequeno erro
saiu muito caro - e até mesmo chegou a ser fatal.
Sonda para monitorar o clima em Marte
Feita para orbitar Marte como o primeiro satélite
meteorológico interplanetário, a sonda Mars Climate Orbiter desapareceu em 1999 porque a
equipe da NASA usou o sistema anglo-saxão de unidades (que utiliza medidas como
polegadas, milhas e galões), enquanto uma das empresas contratadas usou o
sistema decimal (baseado no metro, no grama e no litro).
Fazendo as contas em quilômetros, mas
aproximando-se em milhas, a sonda de U$125 milhões chegou perto demais de Marte quando tentava manobrar para entrar em órbita
do planeta, e acredita-se que ela tenha sido destruída ao entrar em contato com
a atmosfera.
Uma investigação determinou que a causa do
desaparecimento foi um "erro de conversão das unidades inglesas para as
métricas" em uma parte do sistema de computação que operava a sonda a
partir da Terra.
O navio Vesa
Em 1628, uma multidão na Suécia presenciou
horrorizada o novo navio de guerra Vesa naufragar em sua viagem inaugural, a
menos de dois quilômetros da costa. Na ocasião, 30 tripulantes morreram.
Armado com 64 canhões de bronze, o Vesa era
considerado o navio mais poderoso do mundo.
Os arqueólogos que o estudaram depois que ele foi
içado do fundo do mar, em 1961, dizem que ele era assimétrico: mais espesso a
bombordo do que a estibordo.
Uma razão para isso pode ser o fato de que os operários
usaram sistemas de medidas diferentes. Os arqueólogos encontraram quatro réguas
usadas na construção: duas estavam calibradas em pés suecos, que têm 12
polegadas, enquanto as outras usavam pés de Amsterdã, com 11 polegadas.
O planador de Gimli
Em 1983, um voo da companhia Air Canada ficou sem
combustível quando voava sobre o povoado de Gimli, na província canadense de
Manitoba. O Canadá havia adotado o sistema métrico decimal em 1970, e o avião
havia sido o primeiro da empresa a usar as medidas métricas.
O indicador de combustível a bordo do avião não
estava funcionando, por isso a tripulação usou um tubo para medir quanto
combustível estavam colocando durante o reabastecimento.
O procedimento deu errado quando as medidas de
volume foram convertidas em medidas de peso e houve uma confusão entre libras e
quilos. O avião acabou decolando com a metade da quantidade de combustível que
deveria ter.
Por sorte, o piloto foi capaz de aterrissar na
pista de Gimli.
O telescópio Hubble
O Hubble é famoso por suas belas imagens do espaço
e por ser considerado um grande êxito da Nasa. Mesmo assim, ele teve um início
de operação difícil.
As primeiras imagens enviadas pelo telescópio
estavam borradas porque seu espelho principal era muito plano.
Não muito - só 2,2 micrômetros, 50 vezes menos do
que a espessura de um fio de cabelo humano - mas o suficiente para colocar em
perigo todo o projeto.
Uma teoria é que uma pequena mancha de tinta em um
aparelho usado para testar o espelho tenha provocado a distorção nas medidas.
Uma missão do ônibus espacial consertou o problema
em 1993.
Big Ben
O sino do Big Ben no Parlamento de Londres
rompeu-se em 1857 e foi refundido para ser moldado novamente. Mas o novo sino,
cuja colocação levou três dias em 1859, também se rompeu rapidamente.
Aí começaram as disputas sobre quem era o culpado,
o que deu início até mesmo a um caso de difamação.
Uma teoria diz que seu pêndulo era pesado demais,
com cerca de 330 quilos, ao menos para a liga de metal usada para fazê-lo (de
sete partes de estanho e 22 de cobre), algo que já havia sido alertado pelos
responsáveis por sua fundição.
O segundo sino não foi substituído (ainda está
quebrado), apenas mudou-se sua posição. Na dúvida, o pêndulo foi trocado por um
mais leve.
A ponte de Laufenburg
Qual é o nível do mar? Ele varia de um lugar
para o outro, e países usam diferentes pontos de referência.
"A Grã-Bretanha mede a altura, por exemplo, em
relação ao nível do mar em Cornwall, enquanto a França o faz em relação ao
nível do mar em Marselha", explica Philip Woodworth, do Centro Oceanográfico
Nacional, em Liverpool, na Inglaterra.
Já a Alemanha mede a altura em relação ao Mar do
Norte, enquanto a Suíça, assim como a França, opta pelo Mediterrâneo.
Isso gerou um problema em Laufenburg, um povoado
que está na divisa entre a Alemanha e a Suíça.
Conforme as duas metades de uma ponte se
aproximavam uma da outra durante a construção, em 2003, ficou evidente que, em
vez de estarem "à mesma altura do nível do mar", um lado estava 54
centímetros acima do outro.
Os construtores sabiam que havia uma diferença de
27 centímetros entre as duas versões do nível do mar, mas por alguma razão essa
diferença foi duplicada em vez de ser compensada.
O lado alemão teve que ser rebaixado para que a
ponte pudesse ser completada.
A dieta do explorador Scott
O explorador Robert Falcon cometeu um erro fatal ao
calcular a quantidade de comida que seus homens necessitariam durante sua
expedição ao Pólo Sul, realizada entre 1910 e 1912.
Eles recebiam uma ração de 4,5 mil calorias por
dia, o que era insuficiente quando se tem que arrastar trenós, ainda mais a uma
grande altitude.
Segundo Mike Stroud, médico especialista em
expedições polares e em nutrição, os expedicionários de Scott estavam recebendo
3 mil calorias a menos do que seus corpos necessitavam, e perderam 25 quilos
antes de alcançar seu destino e começar o retorno.
Acredita-se que todos morreram de fome na viagem.
A pista de biatlo de Sochi
Na véspera do início das Olimpíadas de Sochi, na Rússia,
foi descoberto que a pista de biatlo - que deveria ser um circuito de 2,5
quilômetros - era 40 metros mais curta.
Com isso, os competidores da prova de 7,5
quilômetros percorreriam menos de 7,4 quilômetros ao completar a prova,
enquanto os da prova de 12,5 quilômetros percorreriam 12,3 quilômetros.
O erro foi consertado a tempo da primeira prova,
três dias depois.
A Ponte do Milênio de Londres
Para marcar o início do novo milênio, Londres
construiu uma ponte para pedestres em junho de 2000 que une o famoso museu Tate
Modern, localizado na margem sul do rio Tâmisa, com a margem norte próxima a
Catedral de Saint Paul.
Mas logo percebeu-se que a estrutura de 350 metros
de comprimento tremia de forma preocupante quando se caminhava sobre ela.
Um dos problemas de design de uma ponte de pedestre é o efeito da
"pisada sincronizada": à medida que a ponte balança, as pessoas
ajustam seu passo conforme o ritmo da ponte, aumentando ainda mais sua
oscilação.
Neste caso, os projetistas levaram em conta os
passos sincronizados de cima para baixo, mas não o efeito para os lados.
No ano seguinte, começaram a ser instalados
amortecedores para reduzir seu balanço, e ela foi reaberta ao público em 2002.
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